Quinta-feira, 29 de Junho de 2006
O ódio não tem mexido.
Naturalmente, as pessoas aproximam-se, dão-lhe com a biqueira do sapato e o gajo: moita carrasco.
Isto leva a populaça à conclusão óbvia: 'tá morto.
Mas desenganem-se. O ódio é imortal. O tempo e o espaço são infinitos. O ódio, também.
Hoje quero falar-vos do ódio pelo mundial de futebol. O mundial de futebol trás ao de cima o que de mais bimbo existe nesta crosta encarquilhada a que chamamos Portugal.
O país enche-se de bandeiras da Nação, o orgulho nacionalista vem ao de cima e os jogadores de futebol são apelidados de "heróis" e "resistentes", no fim de uma partida de bola, por toda a imprensa - unânime.
"Heróis?", penso eu, "orgulho nacional?", pergunto-me.
Onde estão, afinal, os verdadeiros heróis? Aqueles que se dão, altruisticamente, a tudo e a todos, por uma causa. Por um país, uma independência, uma liberdade, ou mesmo uma pessoa.
Jogadores de bola não são heróis. Não se dão. Vendem-se.
Os heróis não se fazem pagar, não são egoístas, não são vaidosos. São também um bocado idiotas e acabam quase sempre mortos. Mas são heróis.
E o orgulho pela nação? Onde está escondido nos dois anos de intervalo entre europeus e mundiais de futebol? Onde pára, afinal, tamanha dedicação à nossa pátria quando é preciso trabalhar, melhorar, evoluír, educar, progredir, civilizar? Não existe.
É um falso orgulho. Os portugueses não têm orgulho em ser portugueses, como, por exemplo, os americaos têm em ser americanos. Lá, as bandeiras esvoaçam às portas, todos os dias. É foleiro, é piroso... é perigoso. Mas é mais real do que hastear um estandarte nacional mal desenhado (aquilo são castelos ou pénis amarelos?), dois meses, de dois em dois anos, na porta de trás do Fiat Punto.
Sejamos honestos: ou se é por Portugal sempre, ou então invente-se uma bandeira qualquer para a selecção nacional, para que não se confunda futebol com o país.
Ou então, talvez esteja errado. Talvez este país seja apenas... futebol.